A Copa está quase acabando, mas essas últimas semanas foram para o Brasil digamos que no mínimo: intensas. Nestes tempos, o Brasil está em alta na mídia nacional e internacional, o futebol então nem se fala, virou moda. Com isso, a maioria das marcas que pode pagar por um espaço na mídia quer mais é aparecer (no bom sentido da coisa), e portanto, quase todas estão associando seus nomes ao campeonato, ao futebol e à uma imagem do Brasil bem estereotipada.
Sabemos que o uso dos estereótipos é feito na propaganda para facilitar a compreensão da mensagem, entretanto seu uso de forma negativa pode ajudar a endossar uma imagem errada de um grupo ou de um país. O Brasil, infelizmente, ainda é visto por muitos estrangeiros através de uma visão arcaica que limita o país a futebol, samba, carnaval e mulheres com corpos esculturais e disponíveis. Essa visão, por pior que pareça, por vezes é endossada por nós mesmos, mesmo que de forma sutil, através da mídia de uma forma geral e também da publicidade.
Esse tipo de estereótipo da mulher brasileira só contribui para o aumento da violência, seja em forma de abuso sexual ou verbal. Pensando nisso a Prefeitura de Curitiba através da Secretaria da Mulher e da Comunicação Social criou a Campanha “Não quer dizer: Não”. A capital, segundo dados do Ministério do Turismo, até o final da Copa deve receber cerca de 160 mil turistas, entre brasileiros e estrangeiros, daí a atenção em relação ao turismo sexual e outros tipos de abuso.
Segundo a secretária municipal da Mulher, Roseli Isidoro, “A intenção é mostrar que a prefeitura tem tolerância zero para a violência contra mulheres e crianças. As nossas ações e esforços visam a tirar da invisibilidade o tema da violência contra as mulheres e rearticular a rede pública de responsabilização e de apoio às vítimas”. A preocupação é baseada em dados, segundo a Delegacia da Mulher, entre janeiro e abril de 2014 foram registrados 2.480 casos de denúncias de violência contra a mulher em Curitiba. “Esses dados são preocupantes e representam um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado”, diz Roseli.
E essa não é só uma realidade da capital: Segundo a campanha UNA-SE pelo fim da violência contra as mulheres, do Secretário-Geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida; Ainda, calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida; E entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão, segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas detectadas.
Por causa desse quadro a campanha vem alertar os turistas de uma coisa óbvia, mas por vezes negligenciada: quando uma mulher diz “Não” à sua cantada isso significa não mesmo, não é charme e ela precisa ser respeitada. “Os homens devem saber que quando uma mulher está dizendo não, é porque ela quer ser respeitada, ela quer ser tratada com dignidade. E que ela não está fazendo jogo, mas exercendo um direito dela”, diz Roseli.
A campanha é assinada pela Agência CCZ e conta com cartazes que estão espalhados por ônibus, hotéis, pontos turísticos, fitinhas como a do Senhor do Bonfim, Fan Fest, além da página na rede social da cidade. A frase “Não quer dizer: não” é encontrada em cinco idiomas: Português, Inglês, Espanhol, Russo e Alemão. Além do recado “Não importa de onde você é, respeite nossas mulheres.” A publicação do cartaz na rede social da Prefeitura de Curitiba já recebeu mais de 5 mil curtidas e mais de 1,5 mil compartilhamentos atingindo pessoas além do âmbito da cidade.
Os pôsteres foram criados para o período da Copa do Mundo, mas a preocupação com o assunto permanecerá após o fim do evento, com campanhas que incentivem o respeito à mulher, seguindo as diretrizes do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra à Mulher, desenvolvido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.
“O nosso alerta já está dado para quem quiser ouvir – aqui não”. (Roseli Isidoro, Secretária Municipal da Mulher de Curitiba)
Por Veriza Duca